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Agricultores protestam na abertura da Expointer 2025 com coroas e balões pretos
Manifestação denuncia suicídios causados por dívidas rurais e cobra aprovação de projeto de lei para securitização
Por Redação Portal na Hora
Publicado em 10/09/2025 03:17 • Atualizado 10/09/2025 03:20
Economia

A abertura da Expointer 2025, tradicional feira agropecuária realizada em Esteio (RS), foi marcada por uma manifestação silenciosa e impactante de agricultores e pecuaristas. Em meio às celebrações oficiais, os produtores rurais ergueram coroas de flores e balões pretos diante do palco principal, em homenagem aos colegas que perderam a vida em decorrência do endividamento rural.

“Cada coroa representa uma vida que se perdeu. É cada suicídio que ocorreu em prol das dívidas, de pessoas que não acharam outra alternativa”, afirmou o pecuarista Fábio Rigodanzo, de Derrubadas, visivelmente emocionado.

A crise no campo se agravou nos últimos anos com a sequência de estiagens severas e, mais recentemente, com a enchente histórica de 2024, que devastou lavouras, destruiu infraestrutura e deixou milhares de famílias rurais em situação de vulnerabilidade. Segundo os organizadores do protesto, ao menos 24 produtores rurais cometeram suicídio desde o início da crise.

O principal pedido dos manifestantes é a aprovação do Projeto de Lei 5.122/2023, que propõe a *securitização das dívidas rurais*, permitindo que os débitos sejam parcelados em até 15 anos, com três anos de carência. A proposta tramita no Senado e é vista como uma saída viável para evitar o colapso financeiro de milhares de produtores.

“Empenhoramos casa, terra, maquinário, e hoje não temos mais recursos. Se o governo não nos apoiar, pode faltar arroz, açúcar e café”, alertou Vanderlei de Bona, agricultor de Soledade, destacando o risco de desabastecimento alimentar.

Durante a cerimônia, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, foi vaiado ao anunciar uma Medida Provisória que destina R$ 12 bilhões para renegociação das dívidas. “Estamos aqui para apresentar soluções concretas”, declarou o ministro, enquanto os manifestantes erguiam cartazes pedindo “respeito” e “ação imediata”.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também enfrentou resistência ao subir ao palco. Em seu discurso, classificou o protesto como uma tentativa de “captura política” do movimento. “Respeitamos a dor dos produtores, mas não podemos permitir que ela seja instrumentalizada”, disse.

A manifestação foi organizada por sindicatos rurais, cooperativas e associações de produtores, que também distribuíram panfletos com dados sobre o aumento do endividamento e o impacto da crise no setor agropecuário. Muitos visitantes da feira se juntaram ao ato, em solidariedade aos agricultores.

A Expointer, que costuma ser um espaço de celebração da força do agronegócio brasileiro, tornou-se neste ano um palco de denúncia e apelo por sobrevivência. O silêncio dos balões pretos e das coroas falou mais alto que qualquer discurso oficial, revelando a urgência de medidas concretas para salvar o campo, dizem os manifestantes.

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